sexta-feira, 23 de abril de 2010

Crônica

Tenho 19 anos e o meu nome pouco interessa. Apresento-me sempre anonimamente, pois entendo que as ações explicam aquilo que sou (essas sim identificam-me).
Acho que tenho uma história para contar, sem saber, contudo, por onde iniciar a mesma.
Decidi não há muito que iria por um término à minha vida mas logo recuei neste meu ímpeto, enfadada de tudo o que já vivi, sobre o olhar castrador desta merda de sociedade que me julga uma pré adulta, inexperiente pela minha idade e, mal sabem eles que, Reis foram proclamados aos 14 anos. Mereço mais apreço.
Não seria por eles, que o faria, estou consciente do que digo e sei que atento contra todas as sensibilidades, as poucas palavras que aqui deixo, levam certamente aos que me lêem a exprimir que sou demente, sem se quer conhecer um pouco do que sou ou mesmo do que me leva a agir neste sentido, lá estão os castradores redutores.
Identificas-te? Enfim…
Sinto-me zangada, sempre o senti, Dizem-me:
-É uma revoltada! Sim, sou! contra o que? Contra quem? Só há bem pouco tempo comecei a levantar o véu a estas questões que sempre me acompanharam. Alguns, conseguem viver lado a lado com estas contendas, são minimalistas ao ponto de as esquecer, eu felizmente não sou capaz, prefiro esta honestidade arrebatadora que me obriga a levitar nestes pensamentos e procurar incessantemente respostas para uma vida sem sentido. Isto se assemelha a uma desculpa, mas não é, aliás, nunca o foi.
Escrevo agora, quando antes não fui ouvida, é, portanto uma forma de manter viva a minha existência, de dar a devida importância ao que sinto, não quero por outro lado culpar aqueles que em determinados momentos não se predispuseram a escutar. Aprendo muito vagarosamente o conceito de integração, custa-me estas idéias pré concebidas, sou contra estas fúteis colegas de escola, contra aqueles intitulados amigos, que logo se esvanecem pela necessidade de aceitação social, estou talvez, como o meu pai me diz em negação, ou seja, aprecio, ou melhor, deprecio aquilo que não gosto, sem saber o que realmente me interessa, esses gostos de fato, não sei dizer.
Bem, antes nem aquilo que verdadeiramente originava este meu estado, era capaz de enunciar, talvez agora um passo em frente tenha sido dado, talvez…
Fui obrigada, pelos meus pais, a ser consultada por um especialista nos meandros da mente dos jovens rebeldes, percebi, logo à partida que não sou um caso único, para isso bastou entrar na sala de espera do consultório e observar as caras dos presentes, para dizer a verdade não me descansou, apesar de tudo o que já ouvi, começando por:
- o nosso problema tende a ser sempre o maior do mundo, quando não é
Estou ainda muito virada para mim mesmo, desmistificar esta contenda que tanto me dá que fazer. Não vejo estas consultas como uma ajuda, para ser sincero ainda nem as percebi bem, até a data, deram-me apenas trabalho, o de me deslocar, minto, deram-me a conhecer a mente enigmática de Maria, aquela jovem que está sempre presente nos dias em que sou obrigada a ir, e que de certo modo se tornou a razão da minha jornada clínica (…)

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